Um Brasil fraturado e um governo vítima de atentado

Desde o período de campanha para as eleições presidenciais brasileiras de Outubro de 2022, que a sociedade brasileira vive sob diversos ataques e ameaças, principalmente, até à tomada de posse ao novo presidente eleito.

É  então necessário invocar o campo da Sociologia Política, pois esta analisa o comportamento político dos atores sociais e um sociólogo procura, nos contextos socioestruturais, as causas que explicam o porquê da existência de outros acontecimentos sociais e até mesmo políticos.

Recorro a dois sociólogos, que julgo justificarem a conjuntura atual vivida no Brasil, são eles, Jean-Gabriel de Tarde e David Durkheim.

O primeiro, afirmava que “a multidão não tem opinião” e portanto seguem um líder cegamente. O segundo, Durkheim, afirmava que “só se pode explicar um facto social através de outro facto social”, ou seja, já vimos este episódio acontecer antes.

Relativamente ao cenário pós-eleições no segundo turno, os apoiantes de Bolsonaro, os bolsonaristas, dia após dia, agendaram manifestações e bloqueios nas estradas, propaganda nas redes sociais contra o então Presidente eleito, Lula da Silva, assim como um possível ataque na sua tomada de posse, quando este estivesse a subir a rampa no Palácio do Planalto, vigílias nos quartéis das Forças Armadas, episódios de violência contra aqueles que se afirmavam não ser pró-bolsonaro, entre outros incidentes.

Como afirmava o sociólogo Max Weber, uma das fontes de Direito era a legitimidade carismática e é essa mesma legitimidade que cerca de 58 milhões de eleitores atribui à figura de Bolsonaro, apelidando-o até de “Mito”.

Foram precisas 45 horas para que Bolsonaro fizesse o pronunciamento pós-eleições e na análise ao seu discurso, é possível perceber que as palavras proferidas, os agradecimentos aos seus apoiantes, era tudo uma técnica para fazer passar a mensagem de que este não fecharia a porta de voltar ao cargo de presidente assim como reforçou a mensagem dizendo que “os princípios da Ultradireita saíram fortalecidos”. Ou seja, para um bom entendedor meia palavra basta e este continua a manter a sua postura de “quero, posso e mando”.

Um exemplo que justifica esta afirmação, é o controlo que Bolsonaro arquitetou nas forças de segurança e de inteligência que detém sob sua tutela direta, o fortalecimento do seu contacto e poder junto das Forças Armadas, quer seja, com salários exorbitantes para as altas e baixas patentes. Tudo isto de forma a conseguir agrupar o seu núcleo puro e duro de poder.

A base apoiante de Bolsonaro, define-se como aqueles que rejeitam a mudança, o seu espectro político é de extrema-direita e a sua defesa da ordem e da segurança, leva ao autoritarismo. Os Bolsonaristas mais radicais movem-se através de narrativas como a “intervenção militar constitucional”, algo que não é novo nos antecedentes da política brasileira.

Como afirma o Politólogo José Filipe Pinto, numa das suas obras, o populismo de Bolsonaro define-se como sendo um populismo cultural e identitário, sendo que o populismo “identifica-se na articulação do discurso e não na prática”. Ou seja, desde que há populismo, há negacionismo e Bolsonaro é prova viva disso.

O atual cenário é desolador, cabe então ao Presidente eleito, Lula da Silva, utilizar a Constituição da República Federativa do Brasil como afirmação do Estado de Direito Democrático e de uma República.

De salientar ainda, que a Constituição classifica-se como analítica (quanto à sua extensão, podendo ser sintética ou analítica), pois contém artigos que se adequariam como normas infraconstitucionais e assim não seria uma Constituição prolixa, como é o caso.

Assim sendo, é preciso olhar com seriedade todos os ataques contra as Democracias, é preciso defender diariamente os valores que nela estão presentes. Devemos então estar atentos e esperar o inesperado, pois a mudança no status quo é real.

Duarte Ferreira
Membro do Secretariado do PS Seixal
Eleito do PS na AF de Amora
 

 

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

André Pinotes Batista eleito Presidente da Comissão Política da Federação Distrital de Setúbal do PS com visão renovada para o distrito

Elisabete Adrião - Informação (que não chega) aos vereadores