Orçamento CM Seixal 2024 - Intervenção Vereadora Elisabete Adrião

Analisando o presente orçamento do Município apresentado para o ano de 2024, cumpre-me tecer apontamentos nas seguintes rubricas:

02 - Mais desenvolvimento social e paz

A descentralização de competências na área da ação social para os municípios, foi uma das mais importantes reformas administrativas para o país.

As autarquias locais assumem um papel de especial relevância para a gestão de serviços públicos prestados à população, numa dimensão de proximidade baseada no princípio da subsidiariedade, o que se traduz num melhor atendimento e numa resposta mais célere, bem como garantir uma gestão mais eficaz.

A descentralização de competências veio a promover maior coesão territorial, com mais serviços, competências e mais pessoas.

Este modelo de governação local não foi bem recebido pelo executivo CDU, aliás, diga-se, por todas as câmaras Comunistas, pois sem ainda terem conhecimento dos diplomas e pacote financeiro associado, o Partido comunista rejeitou liminarmente o processo, fundamentado com factos e pensamentos ideológicos e políticos relegando para segundo plano os benefícios e oportunidades a favor das populações.

Neste item, é de salientar o apoio que esta Câmara tem concedido às entidades sociais, quer nas candidaturas a financiamento PRR, PARES, PIDDAC entre outros, quer para apoio na construção de novas respostas e equipamentos sociais, bem como para a requalificações e obras de melhoramento dos equipamentos existentes no território.

Todavia, a benevolência que é prestada às entidades tem avigorado os intentos eleitorais do executivo comunista. O Sr. Presidente da Câmara, não se coíbe de usar este facto, nos seus discursos inflamados em qualquer evento social e festivo, assumindo-se como o grande obreiro e patrocinador de todos os investimentos que acontecem no concelho, como se fossem seus, da sua exclusiva iniciativa e total financiamento.  

Chega até ser sôfrega, a vontade que o executivo comunista manifesta em ter uma placa ou um outdoor publicitário, junto de uma obra social para demarcar qualquer outro protagonista.     

Mas sejamos sérios, o município do Seixal tem sido contemplado com o financiamento concedido pelo mecanismo de Recuperação e Resiliência, fruto duma iniciativa inédita da União Europeia. Temos várias candidaturas aprovadas para iniciar a construção de equipamentos e respostas sociais de novos equipamentos, cujo financiamento cobre grande parte do custo total da obra.  

Se é para valorizar quem apoia, quem contribui, quem executa, é fundamental promover uma comunicação clara, aberta e honesta junto da população.

Outra situação que importa frisar, os dinheiros públicos e a respetiva utilização constituem, sem margem para dúvidas, um dos núcleos essenciais do funcionamento de um estado de direito, democrático e social. O município do Seixal tem o dever de apoiar a atividade das entidades e organismos na promoção do bem-estar e da qualidade de vida da população, e tendo em conta os princípios da legalidade e transparência, é imperativo a elaboração de um Regulamento de Atribuição de Apoios pelo Município, que permita garantir a equidade e o controlo na atribuição desses apoios, quer sejam de caráter financeiro ou não financeiro.

Ainda neste item, surge em grande destaque a promoção da paz e da Cooperação pela defesa e a afirmação dos valores de paz e da liberdade com todos os povos do mundo.

Ora, foi criado um gabinete ao serviço do Partido Comunista, com recursos da Câmara, com dinheiros públicos, cujo propósito é somente, disseminar a sua doutrina junto da população.

Para finalizar este eixo, como nota adicional, o atual governo tem vindo a tomar medidas reais de forma a ajudar as entidades do setor social, e face ao contexto atual da economia portuguesa. Recentemente, foi assinado um Memorando de Entendimento com o Setor Social e Solidário para reforçar o aumento das comparticipações financeiras da Segurança Social às Instituições que garantem respostas sociais.

Documento que se prevê, o aumento de 11% nos acordos de respostas residenciais e Centros de Dia e 8% de atualização nos acordos de SAD e nas demais respostas sociais.

 

10 - No que respeita às Políticas Públicas de Habitação:

A crise de habitação em Portugal é extensiva em quase toda a Europa, em que os preços e as rendas estão a aumentar muito acima do crescimento dos rendimentos das pessoas.

O maior problema é a escassez de oferta, e em simultâneo com a subida dos valores das rendas praticadas no mercado, com a subida das taxas de juro e a limitação no acesso ao crédito.

Nesse sentido, o atual governo, tem vindo a apresentar vários conjuntos de medidas, para dar resposta à crise na habitação, através de mecanismos de colmatação das insuficiências, daqueles que não têm capacidade financeira de aceder à habitação no mercado livre.

Este trabalho tem vindo a ser feito, em parceria com muitos municípios que têm aproveitado a dotação financeira disponível, através dos programas com a Nova Geração de Políticas de Habitação em que o 1.º Direito, tem como objetivo acabar com as situações habitacionais indignas existentes, e o Porta de Entrada, primeiro programa direcionado para o alojamento urgente e de emergência.

Independentemente da modalidade de habitação pública ou privada é ao Estado que compete a regulação na defesa de princípios de equidade social e de sustentabilidade no acesso à habitação.

Todavia, a promoção de habitação social é uma tarefa que deverá contar com a colaboração e atuação dos municípios em zonas especialmente carenciadas e destinadas a realojamento de população residente em barracas.

A realização de qualquer programa, as prioridades e a sua dimensão têm ficado à consideração e vontade política dos executivos das autarquias em resolver o problema.

No município do Seixal, os sucessivos executivos comunistas têm preferido alimentar o queixume e empurrar o problema da habitação social para que outros o resolvam. 

É preciso justificar que a rubrica revestida de investimento municipal nos anteriores orçamentos para a aquisição de fogos para realojamento das famílias de Vale de Chicharos (vulgo bairro da Jamaica) tem uma boa narrativa por trás.

O realojamento passou a ser uma realidade por força do governo socialista que obrigou o executivo comunista a avançar com o processo, após ter apresentado um conjunto alargado de hipóteses, para resolver definitivamente o problema no âmbito do programa ProHabita.

Também, importa relembrar, que os problemas habitacionais no concelho do Seixal não se circunscrevem apenas a este bairro social. Pois, ainda temos muitas famílias para realojar noutros locais problemáticos, como é o caso grave de Santa Marta do Pinhal.

A autarquia do Seixal aderiu ao programa Especial de Realojamento em 1993, depois de fazer o levantamento das famílias residentes no bairro, procedeu ao realojamento de algumas dessas famílias, porém, deixou outras tantas, que ainda hoje, esperam pela sua vez. Estamos a falar de famílias que há 30 anos aguardam por melhor sorte habitacional.

Estamos a falar de 30 anos de incapacidade governativa local, tendo a autarquia se comprometido a realojar todas as famílias inscritas no PER.

Estamos a falar de 30 anos de incapacidade governativa local, em que se permite que famílias inscritas no PER continuem a viver em barracas sem condições de habitabilidade e salubridade.

Estamos a falar de 30 anos de responsabilidade dos sucessivos executivos comunistas, que para além de não terem conseguido cumprir com o acordado em sede do PER, ainda o deixaram agravar, permitindo a construção de mais barracas por inercia dos serviços de fiscalização.

Outros municípios têm sabido aproveitar a linha de financiamento criada pelos governos PS e PSD, e hoje, apenas recordamos os nomes de bairros de lata que desapareceram, como foi o caso do Casal Ventoso, a Quinta do Mocho, o Estrela de África, a Pedreira dos Húngaros e tantos outros.


No âmbito da Estratégia Local de Habitação, os vereadores do PS pugnam:

- Por ações concretas no desenvolvimento de programas de reabilitação urbana;

- Apostar no arrendamento acessível para jovens e famílias de classe média, com a criação de gabinete de mediação que facilite a procura de habitação não dependente da CMS;

- Deverá ser inscrito como objetivo prioritário, a erradicação de nichos de pobreza em todos os núcleos de habitação degradada;

- Realojamento urgente das famílias que foram identificadas no PER em 1993;

- Celebração de acordos entre o município do Seixal e todas as AUGI´ss para encontrar uma solução que permita resolver definitivamente o problema que se arrasta desde a década de 70. A constituição de processos de reconversão por iniciativa municipal em que a administração conjunta se revele manifestamente impossível, poderá ser uma solução! 

Por fim, dar notar daquilo que consideramos anacrónico, apostar em projetos como “Pinte A Sua Casa” e “Reabilite o Seu Prédio”, desassociada às novas preocupações energéticas e ambientais, dá queque pensar que é necessário preparar dignamente as habitações para as implicações térmicas das Alterações Climáticas.


Ora, é entendimento do Partido Socialista que os mecanismos de accountability, entendida aqui como a responsabilidade que impede os gestores de fundos públicos de prestar contas de forma clara, estão por implementar no município do Seixal.

1 – Não está a ser assegurado o direito de constituir e exercer uma oposição democrática vertida na Lei n.º 24/98, de 26 de maio, que aprova o Estatuto do Direito de Oposição. Nos termos do n.º 3 do artigo 5.º da mesma lei, estipula-se também que "os partidos políticos representados nos órgãos deliberativos das autarquias locais e que não façam parte dos correspondentes órgãos executivos, ou que neles não assumam pelouros, poderes delegados ou outras formas de responsabilidade direta e imediata pelo exercício de funções executivas, têm o direito de ser ouvidos sobre as propostas dos respetivos orçamentos e planos de atividade", pelo que, estando o executivo municipal obrigado ao princípio da legalidade, deve ser esta a metodologia seguida. Neste sentido, o PS solicitou, que as respetivas propostas fossem enviadas com, pelo menos, 72 horas de antecedência, dada a necessidade de auscultar os órgãos próprios do Partido. Sublinha-se, o Sr. Presidente não cumpriu com a sua obrigação com o disposto legal;

2 - Ao arrepio das deliberações aprovadas na Assembleia Municipal, não existe no concelho do Seixal um mecanismo de Orçamento Participativo. O PS está disponível para analisar qualquer modelo de orçamento participativo que inclua sufrágio direto e universal;

3 - Os munícipes, o movimento associativo e as forças políticas da oposição não têm acesso ao Boletim Municipal, em clara violação da Diretiva 1/2008 da ERC, nomeadamente no que concerne à pluralidade de opiniões;

4 – A Câmara Municipal deverá dar cumprimento à lei n.º8/2009, de 18 de fevereiro, criando-se o Conselho Municipal da Juventude;

5 – Nas sessões de câmara o Sr. Presidente da Câmara não privilegia a comunicação entre os vereadores da oposição e o público que intervém, evitando que estes possam prestar esclarecimentos adicionais ou tecer considerações sobre as informações prestadas. Condenamos veemente esta postura antidemocrática.   

6 - Não são disponibilizados aos vereadores da oposição, em violação do disposto no n.º7 do art.º 42 da Lei n.º 24/98, de 26 de maio, os recursos humanos necessários à sua atividade que, é nos termos legais a de acompanhamento, fiscalização e crítica do trabalho do órgão executivo.

7 - O Sr. Presidente não responde, ou responde fora dos prazos legais previstos no Código Administrativo, aos requerimentos e pedidos de consulta de processos que lhe são formulados, violando assim o princípio da gestão aberta, previsto no art.º 17 do supracitado código.

8 - Mais concretamente no que tange ao estatuto de oposição não são respeitados os seguintes artigos:

a) O Direito à informação – art. 4,º: na medida em que os respetivos titulares nunca foram informados sobre o andamento dos principais assuntos de interesse público relacionados com a atividade do município. Entenda-se, que o titular do direito à informação previsto no Estatuto de Oposição é o Partido Político e não os eleitos;

b) O Direito de Participação – art. 6.º: Os partidos políticos têm direito à presença e participação, leia-se intervenção, em todos os atos e atividades oficiais que, pela sua natureza, o justifiquem. A título de exemplo, apenas é cedida a palavra aos camaradas eleitos pela CDU nas comemorações do 25 de abril e aniversário do município;

c) E o art. 10.º Relatórios de avaliação: O preceito legal invocado prevê que os relatórios sejam elaborados e enviados aos respetivos titulares, ora, o PS nunca recebeu qualquer relatório.

Em suma, seguramente, este não é o nosso orçamento, não é a nossa estratégia de desenvolvimento económico e social do território nem para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das populações do concelho do Seixal.

Nestes termos, e atendendo, sobretudo, às multi-deficiências identificadas na gestão municipal CDU, que derivam, sobretudo, da incapacidade para estudar políticas conjuntas com a oposição, o Partido Socialista não tem condições políticas para votar favoravelmente as Grandes Opções do Plano e Orçamento para o ano de 2024.


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