Samuel Cruz - discurso 50 anos do 25 de abril
Com esta canção de Paulo de Carvalho, que duas semanas antes nos tinha representado no Festival da Eurovisão e ficado previsivelmente em último, foi dada a primeira senha da Revolução de 25 de Abril de 1974.
Mas num momento em que aparentemente vai faltando a memória, a que dizíamos nós Adeus?
A um Portugal em guerra. Uma guerra que mobilizou 90% dos jovens portugueses, matou dez mil e tornou inválidos outros 20 mil
Uma guerra que consumia mais de 20% do Orçamento Geral do Estado e condenava o país e a sua população a uma pobreza extrema. (E isto apesar dos elevados níveis de crescimento económico registados em todo o ocidente, no período compreendido entre o fim da II Guerra Mundial e o primeiro choque petrolífero (1945/1973).)
A um Portugal de fome, e se porventura alguém não acreditar no que lhe dizem os avós, atente no que nos diz a estatística, no Portugal de 74 consumia-se metade do peixe, carne e ovos que se consomem hoje!
Era um Portugal amordaçado, onde estavam proibidos os Partidos Políticos, os sindicatos, o direito de manifestação e as eleições, mas que em contrapartida tinha uma polícia política, presos políticos (mortos também) e um serviço censório.
Neste Portugal adoecer era um sério risco. No Portugal fascista ir ao médico era um luxo que se tinha de pagar, o SNS não existia, nem tão pouco os Centros de Saúde. Para recorrer ao médico municipal (hoje temos o veterinário municipal) tinha de se ostentar um atestado de pobreza, mas quem o obtinha perdia o direito de votar.
E era fácil adoecer no Portugal fascista, 40% dos lares não tinha saneamento, 50% não tinham água canalizada e 66% não tinham eletricidade.
A educação era um luxo, 33% dos portugueses eram analfabetos, hoje são 3% e apenas 1,5% tinham acesso ao ensino superior, hoje atingimos os 20% de licenciados.
No Portugal Fascista existiam 56 mil pensionistas, o que equivale a dizer que a maioria dos Portugueses não tinham direito a pensão, hoje os pensionistas são mais de dois milhões e trezentos mil!
E também se emigrava, em 1973 emigraram 120.000 portugueses e em 2023 apenas metade, 60.000…
O que não podíamos era divorciar-nos, e também não podíamos outras coisas surpreendentes:
Casar com uma enfermeira passou a ser possível a partir de 1963.
Casar com uma professora só com rendimentos documentalmente comprovados, atestado de bom comportamento e autorização do Ministro da Educação.
Utilizar isqueiro só mediante o pagamento de uma taxa na Repartição de finanças e ainda assim era proibido emprestar.
Andar de bicicleta obrigava a pagar licença e afixar o comprovativo em chapa de esmalte na mesma.
Ser homosexual dava direito a prisão.
Beber Coca-Cola? Era Proibido.
Beijar a namorada? Naturalmente proibido.
Este era, como tão bem descreveu Salgueiro Maia aos seus homens antes de partirem de Santarém: “O estado a que isto chegou”. Por oposição aos Estados Socialistas e aos Estados Corporativistas.
Grândola Vila Morena
Com o passar da canção de Zeca Afonso, a segunda senha da Revolução nos emissores da Rádio Renascença, o Processo Revolucionário está em Curso e a partir daí a Revolução fez-se de muitas cantigas e de muitas datas:
25 de Abril de 74 - O dia inicial inteiro e limpo, nas palavras de Sofia
28 de Setembro 74 - A maioria silenciosa
11 de Março de 75 - O Gonçalvismo
25 de Abril de 75 - As eleições para a Constituinte com a vitória do PS e das forças moderadas
25 de Novembro 75 - O fim do PREC, a vitória do Grupo dos nove e o fim dos extremismos de esquerda, mas também dos de direita, o fim da ideia da sovietização do país, mas também o fim das esperanças de voltar ao tempo da “outra senhora”.
A Liberdade
Canção de Sérgio Godinho de 74 foi concretizada em 2 de Abril de 1976 com a aprovação da Constituição da República Portuguesa:
“A paz, o pão
Habitação, saúde e educação”
E já agora a que Sérgio recentemente acrescentou a Justiça, dizendo: “Ela (a Justiça) tem tropeçado nela própria e derrubado governos. Temos que a cuidar melhor.. “ Tem razão!
É uma cantiga que não podia ser mais certeira: representa tudo aquilo porque nós, Homens Livres, lutámos, lutamos e vamos continuar a lutar: os valores da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade .
A Liberdade!
A Liberdade de Amar.
A Liberdade de Aprender.
A Liberdade de Opinar.
A Liberdade de Produzir.
A Liberdade de Escolher.
A Liberdade de Querer, de Poder e de Ser.
A Liberdade de Viver e de ser Feliz!
FASCISMO NUNCA MAIS!
VIVA O 25 DE ABRIL!
VIVA O SEIXAL!
VIVA A REPUBLICA!
VIVA PORTUGAL!
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